03 fevereiro 2024

Homilia Tríduo Capela São Bras - MFII

TRÍDUO DE SÃO BRÁS - CAPELA SÃO BRÁS - MFII

Irmãos e Irmãs, 

O Evangelho da MISSA descreve a missão que os Doze mobilizaram pelas aldeias e regiões da Palestina. Pregaram a necessidade de fazer penitência para entrar no Reino de Deus e expulsavam os demônios e ungiam com óleo muitos doentes e os curavam.

O azeite era utilizado com freqüência para curar as feridas, e o Nosso Senhor determinou que fosse essa a matéria do sacramento da Unção dos Enfermos. Nas breves palavras do Evangelho de São Marcos a Igreja crê que este sacramento foi instituído pelo Senhor e mais tarde promulgado e recomendado aos fiéis pelo Apóstolo São Tiago. É o socorro de Cristo e da sua Igreja pelos cristãos mais necessitados, mostrando sempre a sua compaixão infinita pelos enfermos. 

Jesus se revelou aos discípulos enviados pelo profeta João Batista despertando a atenção para o que estavam vendo e ouvindo: os cegos recuperavam a vista e os coxos andavam; os leprosos ficavam limpos e os surdos ouviam; os mortos ressuscitavam e os pobres eram evangelizados.

Na parábola do banquete das bodas, os criados recebem esta ordem: Saí pelos caminhos... e trazei os pobres, os aleijados, os cegos, os coxos... São inúmeras as passagens em que Jesus se mostra compadecido ao contemplar a dor e a doença, e em que cura muitos como sinal da cura espiritual que realizava nas almas.

Ora, Jesus quis que nós, os seus discípulos, o imitássemos numa compaixão eficaz por quem sofre na doença e em toda a dor. 

Nos doentes, vemos o próprio Cristo que nos diz: O que fizestes por um destes, a mim o fizestes. “Quem ama verdadeiramente o próximo deve fazer-lhe bem ao corpo tanto como à alma – escreve Santo Agostinho –, e isso não consiste apenas em acompanhar os outros ao médico, mas também em cuidar de que não lhes falte alimentação, bebida, roupa, moradia, e em proteger-lhes o corpo contra tudo o que possa prejudicá-lo... São misericordiosos os que usam de delicadeza e humanidade quando proporcionam aos outros o necessário para resistirem aos males e às dores”.

Entre as atenções que podemos ter com os doentes está o cuidado de visitá-los com a freqüência oportuna, de procurar que a doença não os tire o sossego, de facilitar o descanso e o cumprimento de todas as prescrições do médico, de fazer com que o tempo que estejamos com eles lhes seja grato. Não esqueçamos que os doentes são o “tesouro da Igreja” e que têm um poder muito grande diante de Deus, pois o Senhor os olha com particular afeto. 

II. Como Cristãos devemos preocupar-nos pela saúde física dos que estão doentes e também pela sua alma. Procuraremos ajudá-los com os meios humanos ao nosso alcance e, sobretudo, fazendo que eles vejam que, se unirem essa dor a paixão de Cristo, ela se converterá num bem de valor incalculável: torna-se ajuda eficaz para toda a Igreja, purifica as faltas passadas e é uma oportunidade que Deus lhes dá para crescerem muito na santidade pessoal, porque não raras vezes Cristo abençoa com a Cruz.

O sacramento da Unção dos Enfermos é um dos cuidados que a Igreja reserva para os seus filhos doentes. Este sacramento foi instituído para ajudar os homens a alcançar o Céu, mas não pode ser administrado aos sãos, nem mesmo aos que não padecem de uma doença grave, ainda que se achem em perigo de vida, porque foi instituído a modo de remédio espiritual, e os remédios não se dão aos que estão bem de saúde, mas aos doentes (Catecismo Romano, II, 6, 9).

A Igreja não deseja que se espere até os momentos finais para recebê-lo, mas quando se começa a estar em perigo de morte por doença ou velhice; pode-se, porém, ser administrado novamente, se o doente se recupera depois da Unção ou se, durante a mesma doença, se acentua o perigo ou a gravidade; pode-se administrá-lo também a quem vai submeter-se a uma intervenção cirúrgica, desde que a causa da operação seja uma doença grave.

O maior bem deste sacramento é livrar o cristão do abatimento e da fraqueza que contraiu pelos seus pecados.

Deste modo a alma sai fortalecida e recupera a juventude e o vigor que tinha perdido em consequência das suas faltas e debilidades.

É um sacramento que infunde uma grande paz e alegria na alma do doente que esteja lúcido, movendo-o a unir-se a Cristo na Cruz e a corredimir com Ele, e que “prolonga o interesse que o Senhor manifestou pelo bem-estar corporal e espiritual de quem está doente, como testemunham os Evangelhos, e que Ele desejava que os seus discípulos também manifestassem”.

III. E nós? Quando o Senhor nos fizer experimentar a sua Cruz através da dor e da doença, deveremos considerar-nos filhos prediletos. Ele pode enviar-nos a dor física ou outros sofrimentos: humilhações, fracassos, injúrias, desgostos na família... Não devemos esquecer então que a obra redentora de Cristo prossegue através de nós.

Por muito pouco que possamos valer, o sofrimento converte-nos em corredentores com Cristo, e a dor – que era inútil e má – transforma-se em alegria e num tesouro. E podemos dizer com o Apóstolo São Paulo: Agora alegro-me com os meus padecimentos por vós, e supro na minha carne o que falta às tribulações de Cristo pelo seu corpo que é a Igreja.

Sobre a vida de São Brás - protetor da garganta e dos otorrinolaringologistas, dos pecuaristas e das atividades agrícolas; a sua fé em Cristo, que manteve até à morte por decapitação, após cruéis torturas indescritíveis. A tradição diz que era natural de Sebaste, na Armênia, onde passou a sua juventude, dedicando-se, sobretudo, aos estudos de Medicina. Ao tornar-se Bispo, entregou-se aos cuidados físicos e espirituais do povo, realizando, segundo a tradição, até curas milagrosas.

Naqueles anos, as condições de vida dos fiéis da fé cristã pioraram por causa dos contrastes entre o imperador do Oriente, Licínio, e do Ocidente, Constantino, que causaram novas perseguições. O Bispo Brás, para fugir das violências, refugiou-se em uma caverna, no Monte Argeu, onde viveu na solidão e na oração, guiando a sua Igreja, apesar da distância, com mensagens secretas.

Porém, o Bispo Brás foi encontrado e preso pelos guardas do governador Agrícola e levado a julgamento. Ao longo do caminho, encontrou uma mãe desesperada, com seu filhinho nos braços, que estava sendo sufocado por um espinho ou isca de peixe cravado em sua garganta. O bispo abençoou-o e a criança recobrou imediatamente a saúde. Este fato, porém, não foi suficiente para poupá-lo do martírio, após torturas atrozes, que não conseguiram mudar seu espírito.

Recorremos à nossa Mãe, a Virgem de Fátima. Ela, “que no Calvário, permanecendo de pé valorosamente junto à Cruz do Filho (cfr. Jo 19, 25), participou da sua paixão, sabe sempre convencer-nos a unirmos os nossos próprios sofrimentos ao sacrifício de Cristo, num «ofertório» que, transpondo o tempo e o espaço, abraça e salva toda a humanidade”.

Peçamos-lhe que as penas – inevitáveis nesta vida – nos ajudem a unir-nos mais ao seu Filho, e que, quando chegarem, saibamos entendê-las como uma bênção para nós mesmos e para toda a Igreja.


Homilia Novena N. Sra. Purificação - Capela/SE

 Tema: Quem é essa Mulher?

O Magnificat da Igreja que está a caminho (RM, 35-37)

Irmãos, Irmãs! 

 Recordo com alegria na fé, dos meus tempos de infância aos 10 anos e seguintes, sendo conduzido por meus Pais, com meus irmãos, saindo da cidade de Cumbe, por alguns anos, em 02 de fevereiro, para a grandiosa procissão de Nossa Senhora da Purificação da Capela! Lembranças de uma infância marcada pela Fé! E hoje, sendo sacerdote, pela segunda vez, ofereço o sacrifício de Cristo no altar de Deus, sob o olhar materno de Nossa Senhora! 

Ouvimos na Primeira Leitura, os últimos anos de David, marcados pelo drama da guerra civil provocada pelo seu próprio filho que o faz sofrer. Davi é injuriado pelo assassínato de Saul que, na verdade, não matou. Abisai pede autorização para matar Semei, o parente de Saul que proferia a calúnia e as maldições. Mas David se opõe (2 Sam 16, 10). O rei sabia que não tinha matado Saul, mas que tinha matado Urias. Aceitou, por isso, o castigo anunciado por Natan. E confiava em Deus, dizendo: “Talvez o Senhor tenha em conta a minha miséria e me venha a dar bens em troca destes ultrajes” (v. 12). 

O rei David foge para evitar o confronto direto com o filho, sofrendo com paciência e humildade. A sua fuga é uma caminhada penitencial, uma humilde aceitação do castigo divino. Deixa Jerusalém, a cidade heroicamente conquistada, com recordações felizes. As lágrimas de David, ao subir o Monte das Oliveiras, lembram as lágrimas de Jesus, no evangelho de São Lucas 19, 41: “Aproximando-se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela…”.

No Evangelho da Missa, São Marcos relata que Jesus chegou à região dos gerasenos, uma terra de não-judeus, do outro lado do lago de Genesaré. Logo depois de deixar a barca, vem ao seu encontro um endemoninhado que, prostrando-se diante dEle, gritava. Perto do lugar, havia uma grande vara de porcos.

A chegada do Salvador, Jesus, traz consigo a derrota do reino de Satanás, e é por isso que vemos em diversas passagens do Evangelho o endemoninhado resistir e esbravejar. Como vemos em outros milagres, quando Jesus expulsa o demônio, mostra o seu poder redentor. O Senhor sempre se apresenta na nossa vida  livrando-nos dos males que nos oprimem: Passou fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo (At. 10,38).

Também no evangelho, chama atenção a quantidade dos porcos que se afogaram: cerca de dois mil. É uma grande perda para aqueles gentios (pagãos). Foi o resgate que se pediu a esse povo para livrar um deles do poder do demônio: perderam uns porcos, mas recuperaram um homem. Um custo que se pode avaliar também em riquezas que se perdem; um resgate cujo custo é a pobreza daquele que generosamente tenta redimi-lo. A pobreza real dos cristãos talvez seja o valor que Deus tenha fixado pelo resgate do homem de hoje. E vale a pena pagá-lo [...]; um só homem vale muito mais do que dois mil porcos”.

Meus irmãos e irmãs, para os homens daquele povoado, pesou mais o dano material que a libertação do endemoninhado. Na troca de um homem por uns porcos, os habitantes escolheram os porcos. Ao verem o que havia acontecido, pediram a Jesus que se retirasse da sua região. Assim Jesus fez imediatamente.

A presença de Jesus na nossa vida pode significar por vezes perdermos a ocasião de fecharmos um bom negócio, porque não era inteiramente honesto, ou porque não podíamos concorrer em igualdade de condições com alguns colegas inescrupulosos, desonestos..., ou, simplesmente, porque o Senhor queria que lhe ganhássemos o coração com a nossa pobreza. Pode significar termos de renunciar a um cargo público ou de mudar de emprego....

Nunca caiamos na aberração de dizer a Jesus que se retire da nossa vida pelo risco de sofrermos um prejuízo material. É triste mas é fato, que há pessoas fazendo pacto com o diabo para serem ricos, renunciado a Cristo! Ao contrário, devemos dizer a Nosso Senhor muitas vezes, com as palavras que nós sacerdotes pronunciamos em voz baixa antes da Comunhão na Santa Missa: fazei-me cumprir sempre a vossa vontade e jamais separar-me de Vós. É mil vezes preferível estar com Cristo sem nada, a ter todos os tesouros do mundo sem Ele. “A Igreja sabe bem que só Deus, a quem ela serve, satisfaz as aspirações mais profundas do coração do homem”.

Todas as coisas da terra são meios para nos aproximarmos de Deus. Se não servem para isso, já não servem para nada. Jesus vale mais que qualquer negócio, mais que a própria vida. Quando um cristão se deixa conduzir pelo amor de Cristo, tudo lhe serve para a glória de Deus e para o serviço dos seus irmãos e as próprias realidades terrenas são santificadas: a sua casa, a profissão, o esporte, a política… 

O demônio é chamado imundo, diz São João Crisóstomo, pela sua impiedade e afastamento de Deus, e porque se mistura em toda a obra má e contrária a Deus. Vemos neste endemoninhado os pecadores que se querem converter a Deus, libertando-se da escravidão do demônio e do pecado. A luta pode ser longa, mas terminará com uma vitória: o espírito maligno não pode nada contra Cristo. 

Tenhamos sempre em mente que, para derrotarmos o mal e sermos de fato livres, devemos ter Jesus como senhor e colocarmo-nos como seus escravos.

Para Deus a autoridade significa serviço, humildade e amor; Jesus tem autoridade porque sendo Deus, a sua vontade é o nosso verdadeiro bem, curando as feridas, o pecado. É capaz de um amor tão grande que entregou a vida, na sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Somos Igreja, que avança na “sua peregrinação (caminhada)... e anunciando a paixão e a morte do Senhor até que ele venha”. “Seguimos entre as tentações e tribulações da caminhada, apoiados pela força da graça de Deus, que lhe foi prometida pelo Senhor, para que não se afaste da perfeita fidelidade por causa da fraqueza humana, mas permaneça digna esposa do seu Senhor e, com o auxílio do Espírito Santo, não cesse de se renovar a si própria até que, pela Cruz, chegue á luz que não conhece ocaso”.

A Virgem Maria está constantemente presente na nossa caminhada de fé em direção à luz. O cântico do “Magnificat”, que, jorra da profundidade da fé da Virgem Maria na Visitação, não cessa de vibrar no coração da Igreja, que é o nosso.

Na sua saudação, Isabel tinha chamado a Virgem Maria: primeiro, “bendita” por causa do “fruto do seu ventre”; e depois, “feliz” (bem-aventurada) por causa da sua fé (cf. Lc 1, 42. 45 ). Nas palavras do Magnificat, resplandece um clarão do mistério de Deus, a glória da sua inefável santidade, o amor eterno que entra na história do homem.

No Magnificat, A Virgem Maria vê dominado nas suas raízes o pecado do princípio da história terrena da humanidade: o pecado da incredulidade e da «pouca fé» em Deus. Contra a “suspeita” que o “pai da mentira” fez nascer no coração de Eva, a primeira mulher, A virgem Maria, a “nova Eva e verdadeira “mãe dos vivos”, proclama com vigor, sem ofuscar a verdade acerca de Deus: o Deus santo e onipotente, que desde o princípio é a fonte de todas as dádivas, aquele que “fez grandes coisas” em Maria. 

Deus, ao criar-nos, dá-nos a dignidade da imagem e da semelhança d’Ele de modo único em relação a todas as demais criaturas terrestres. Apesar dos nossos pecados, Deus se doa em Jesus Cristo: “Amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito” (Jo 3, 16). A Virgem Maria é a primeira testemunha desta verdade maravilhosa do seu Filho, mediante a sua Cruz e Ressurreição.

Meus irmãos e irmãs, 

A Barca da Igreja, nesse nosso tempo breve, mesmo flutuando entre “tentações e tribulações”, não cessa de repetir com Nossa Senhora as palavras do Magnificat, ancorando na força da verdade sobre Deus, proclamada então com tão extraordinária simplicidade; apesar que vivemos em tempos em que a maioria de homens e mulheres viraram as costas a Deus, ao mesmo tempo, é a Igreja Católica que deseja iluminar com esta mesma verdade acerca de Deus os difíceis e por vezes obscuros caminhos da existência terrena dos homens. 

A Igreja tem o amor preferencial pelos pobres, admiravelmente inscrito no Magnificat de Maria. O Deus da Aliança, cantado pela Virgem de Nazaré, com exultação do seu espírito, é ao mesmo tempo aquele que “derruba os poderosos dos tronos e exalta os humildes... enche de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias ... dispersa os soberbos... e conserva a sua misericórdia para com aqueles que o temem. A maior pobreza do ser humano não é somente a carência de bens materiais, que já é um pecado grave onde poucos têm muito e muitos não tem quase nada; a maior pobreza humana é o seu vazio interior pela ausência de Deus! E dessa ausência que nasce os sentimentos de depressão, ansiedade e suícidio! 

Extraindo a certeza do coração de Maria, da profundidade da sua fé, expressa nas palavras do Magnificat, renovemos nesta novena, sempre para melhor, com as palavras de São Boaventura na oração para depois da Comunhão: 

Que só Vós Senhor sejais sempre [...] a minha herança, a minha posse, o meu tesouro, no qual estejam sempre fixa e firme e inabalável firmada a minha alma e o meu coração.

Senhor, para onde iria eu sem Vós?

É para Maria que esta Igreja paroquial, da qual ela é Mãe e modelo, deve olhar!

12 janeiro 2024

Theotokos: Mãe de Deus

 “No início de um novo ano, somos convidados a colocarmo-nos na escola da discípula fiel do Senhor.”

Irmãos e Irmãs,

Na liturgia de hoje o nosso olhar continua a voltar-se para o grande mistério da encarnação do Filho de Deus enquanto, com particular ênfase, contemplamos a maternidade da Virgem Maria. No trecho da segunda leitura que ouvimos (cf. Gl 4, 4), o Apóstolo Paulo refere-se de maneira muito discreta àquela, mediante a qual o Filho de Deus entra no mundo: Maria de Nazaré, a Mãe de Deus, a Theotokos. No início de um novo ano, somos como que convidados a colocarmo-nos na sua escola, na escola da discípula fiel do Senhor, para que Ela nos ensine a acolher na fé e na oração a salvação que Deus deseja derramar sobre quantos confiam no seu amor misericordioso.

A salvação é um dom de Deus; na primeira leitura, ela foi-nos apresentada como bênção: “Que o Senhor te abençoe e proteja… te mostre o seu rosto e te conceda a paz” (Nm 6, 24.26). Aqui, trata-se da bênção que os sacerdotes costumavam invocar sobre o povo no final das grandes solenidades litúrgicas, particularmente na festa do ano novo. No pensamento semítico a bênção do Senhor produz, pela sua própria força, o bem-estar e a salvação, do mesmo modo como a maldição dá lugar à desgraça e à ruína. Além disso, a eficácia da bênção é concretizada de maneira mais específica por parte de Deus que nos protege (cf. v. 24), que nos é propício (cf. v. 25) e que nos concede a paz, ou seja, que nos oferece a abundância da felicidade.

Fazendo-nos ouvir esta antiga bênção, no início de um novo ano solar, é como se a liturgia quisesse encorajar-nos a invocar, por nossa vez, a bênção do Senhor sobre o novo ano, que dá os seus primeiros passos, a fim de que ele seja para todos nós um ano de prosperidade e de paz. […]


O Natal é a festa do nascimento do Filho de Deus e também a da nossa filiação divina. Porque somos realmente filhos de Deus, podemos dirigirmo-nos a Ele com a confiança de filhos pequenos e chamá-lo, à maneira das criancinhas: «Papá». «Abbá» é o diminutivo carinhoso com que ainda hoje, em Israel, os filhos chamam pelo pai (abbá).

Maria é Mãe de Deus porque Jesus é Deus! Todas aquelas passagens da Sagrada Escritura que dizem que Jesus é o Filho de Deus e que ele nasceu de Maria são argumentos a favor desta verdade de fé. Ora, se Jesus é Deus e Maria é Mãe de Jesus, a conclusão necessária é que Maria é Mãe de Deus. A passagem do Evangelho de hoje nos transmite que Jesus foi “concebido no seio materno” de Maria (Lc 2,21).

Em Cristo há uma só Pessoa, a divina, e duas naturezas, a humana e a divina; é a Pessoa divina quem se encarna assumindo assim a natureza humana. 

Por outro lado, não conheço nenhuma mulher que seja mãe da natureza humana em geral, mas de Antônio, Joaquim, Maria, etc., de pessoas concretas; as mães não são mães de naturezas abstratas, mas de indivíduos. Santa Maria também, ela é Mãe de uma Pessoa, do Verbo do Pai; logicamente, não porque ela tenha gerado a Pessoa divina na eternidade, mas porque ela a gerou segundo a humanidade quando chegou a plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4), ou seja, dela nasceu o Verbo feito carne, Jesus Cristo: ela é Mãe de Deus enquanto que o Verbo fez-se carne nela.

Nós, em união com os cristãos de todos os tempos, alegramo-nos com essa verdade e damos graças a Deus porque ela também é nossa Mãe. Que bom começarmos um novo ano com uma celebração em honra de Nossa Senhora! Ela sempre nos leva a Jesus, o seu conselho para o ano que se inicia é este: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). Se fizermos o que a nossa Mãe nos diz, seremos muito felizes durante esse ano e durante toda a vida, seremos guiados por uma Mãe tão boa e nos sentiremos seguros.

Como ser cristão e não ser mariano? Entende-se sem compreender. Ser cristão e não ser mariano é uma contradição! Sinceramente, é difícil compreender esses cristãos, que ao levarem o nome de Cristo não querem levar o de Maria! Não podemos ser indelicados e pouco elegantes para com Nosso Senhor desmerecendo a sua própria Mãe, aquela que ele tanto ama. Não é verdade que nós também nos sentimos ofendidos se alguém começar a falar mal de nossas mães? Temo pelos que não amam Nossa Senhora!

“Maria, porém, conservava todos estes fatos e meditava sobre eles no seu coração” (Lc 2, 19). 

O primeiro dia do ano é colocado sob o sinal de uma mulher, Maria. O Evangelista Lucas descreve-a como a Virgem silenciosa, constantemente à escuta da palavra eterna, que vive na Palavra de Deus. Maria conserva no seu coração as palavras que provêm de Deus e, unindo-as como num mosaico, aprende a compreendê-las. Na sua escola, também nós queremos aprender a tornar-nos atentos e dóceis discípulos do Senhor. Com a sua ajuda maternal, desejamos comprometer-nos a trabalhar alegremente na «construção» da paz, na esteira de Cristo, Príncipe da Paz. 

Seguindo o exemplo da Virgem Santa, queremos deixar-nos orientar sempre e unicamente por Jesus Cristo, que é o mesmo ontem, hoje e para sempre (cf. Hb 13, 8). 

Amém

Solenidade da Epifania do Senhor (Ano B) - Viemos adorá-lo!

 A epifania é a manifestação de Cristo aos povos pagãos representados nos magos do Oriente que vieram visitá-lo e adorá-lo em Belém. Todos nós sabemos que Deus “deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2,4). Todos são chamados à salvação, à santidade, à felicidade eterna.

O itinerário seguido pelos Magos reflete a caminhada que os pagãos percorreram para encontrar Jesus. Atentos aos sinais da estrela, percebem que Jesus é a luz que traz a salvação, decididamente começam o caminho para O encontrar.  Chama a nossa atenção neste evangelho a disposição dos Magos: eles viram a estrela, deixaram tudo, arriscaram tudo e partiram à procura de Jesus.  

E os Magos partiram

Não podemos deixar de prestar atenção particular ao símbolo da estrela, tão importante no evangelho (cf. Mt 2,1-12).  Esses Magos eram provavelmente astrônomos, tinham observado o surgir de um novo astro, e tinham interpretado este fenômeno celeste como anúncio do nascimento de um rei, precisamente, segundo as Sagradas Escrituras, do rei dos Judeus (cf. Nm 24,17). Esta luz de Cristo se manifestou na inteligência e no coração dos Magos. “Eles partiram” (Mt 2, 9), corajosamente por estradas desconhecidas e empreendendo uma longa e difícil viagem.

Neste caminho são guiados por uma luz. A primeira leitura já anuncia a chegada da luz salvadora de Deus, que transfigurará Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo. O apóstolo João escreve na sua Primeira Carta: “Deus é luz e nele não há trevas” (1Jo 1,5); e mais adiante acrescenta: “Deus é amor”. A luz, que surgiu no Natal, que hoje se manifesta aos povos, é o amor de Deus, revelado na Pessoa do Verbo encarnado. Portanto, os Magos do Oriente são atraídos por esta luz. A adoração de Jesus por parte dos Magos é reconhecida como cumprimento das Escrituras proféticas, como lemos no Livro do Profeta Isaías: “À tua luz caminharão os povos e os reis andarão ao brilho do teu esplendor… trazendo ouro e incenso, e anunciando os louvores ao Senhor” (Is 60,3.6).

No Evangelho lemos que “a estrela, caminhava à frente deles, até que, chegando ao lugar onde estava o Menino, parou”. Chegando a Belém, os Magos “ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e prostrando-se o adoraram” (Mt 2,11). A criança que eles descobrem não é uma criança como as outras: 

é rei, então ofereceram ouro; é Deus, então queimam incenso; passará pela morte antes de ressuscitar, então apresentam a mirra. 

Os dons que os Magos oferecem ao Messias simboliza a verdadeira adoração. Mediante o ouro eles realçam a realeza divina; com o incenso confessam-no como sacerdote da nova Aliança; oferecendo a mirra reconhecem que Jesus derramará o próprio sangue para reconciliar a humanidade com o Pai.

Há muitas pessoas bem intencionadas que, ainda que não conheçam Jesus Cristo, no fundo gostariam de conhecê-lo. Nós, os cristãos, devemos ser os instrumentos eficazes nas mãos de Deus para torná-lo conhecido e para fazê-lo amado entre os homens e as mulheres deste mundo. Hoje em dia, como outrora, muitos fazem a seguinte pergunta: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2). O que responder?

Onde está Deus? O cristão tem que saber a resposta a essa pergunta para apresentá-la aos seus semelhantes. Mas um cristão que não procura estar perto de Deus através da oração, dos sacramentos e da caridade, não poderá dar a resposta certa. Muitos seres humanos continuam tateando na escuridão com uma pequena lanterna pendurada na mão e com uma luz fraca, a da consciência; esta é a luz que não os deixa apagarem-se completamente em meio a tantos ventos fortes das propagandas enganosas. Essas pessoas perguntam a si mesmas e aos que passam ao seu lado: onde está Deus?

Infelizmente e de modo frequente percebe-se o silêncio dos cristãos omissos que não são capazes de intuir essas necessidades mais profundas das almas imortais que se encontram em composição com os corpos destinados à decomposição, mas também à ressurreição. Será que esses cristãos continuam vendo a estrela, que é Cristo? Será que eles não se “mundanizaram”? 

Um exemplo: frequentemente fala-se muito de justiça social, e isso é muito importante, mas deve-se falar em primeiro lugar da justificação, da graça, de Deus, do Reino eterno. Não podemos perder a nossa perspectiva autenticamente cristã que, de forma lógica, repercute neste mundo fazendo-o mais justo e solidário. Assim como quem fica exposto ao sol se aquece, de maneira semelhante quem se expõe diante de Deus também se esquenta e acende o mundo ao seu entorno.

Os pagãos desejavam adorar o Senhor. Afirmam decididamente: “viemos adorá-lo!” Até quando permaneceremos na nossa letargia sem dar-nos conta desse desejo mais profundo de todo coração humano: encontrar-se com o seu Criador e prestar-lhe homenagem?

Os Magos que vieram do Oriente são apenas os primeiros de uma longa procissão de homens e mulheres que na sua vida procuraram constantemente com o olhar a estrela de Deus, que procuraram aquele Deus que está perto de nós, seres humanos, e nos indica o caminho. É a grande multidão de santos, mediante os quais o Senhor, ao longo da história, abriu diante de nós o Evangelho e folheou as suas páginas; ainda hoje Ele continua a fazer isto.

A vida dos santos revela a riqueza do Evangelho. Eles são o rastro luminoso de Deus que Ele mesmo traçou e continua a traçar ao longo da história.  O segredo da santidade é a amizade com Cristo e a adesão fiel à sua vontade.  Santo Ambrósio dizia: “Cristo é tudo para nós” (S. AMBRÓSIO, De virginitate 16, 99). E São Bento exorta aos seus monges: “Nada antepor ao amor de Cristo” (RB 4,21).  São Bento indica com isto que devemos dar sempre prioridade a Cristo, que não podemos colocar nada, nem ninguém em seu lugar. A palavra “antepor” significa colocar algo entre mim e Cristo, construir um muro, uma separação. O amor de Cristo deveria ser nossa meta e nosso caminho, nossa certeza e nossa busca, nosso conforto.  Este “nada antepor”, significa que devemos priorizar sempre a companhia de Cristo. Quando nada colocamos no seu lugar, aí sim, nada antepomos ao seu amor.

Adorar! Nós devemos ser os primeiros a prostrarmo-nos diante do Deus Criador, Redentor e Santificador dos seres humanos. Não podemos perder a dimensão de adoração no cristianismo. Para uma pessoa que entendeu isso, dá pena ver como em alguns ambientes se trata a eucaristia, o grande dom atual de Deus aos homens! Dá pena observar algumas celebrações eucarísticas: sem zelo e sem a observação das prescrições da Igreja para a correta celebração da santa missa, por parte dos ministros de Cristo; entre conversinhas e atendimentos de celulares, por parte de muitos fiéis que participam do santo sacrifício da missa. Desta maneira, não poderíamos apontar a adoração como momento de encontro com Deus! Eles, os que não conhecem a Deus explicitamente, desejariam conhecê-lo e adorá-lo. Mas, nós que o conhecemos… Será que o conhecemos mesmo?


Homilia Tríduo Capela São Bras - MFII

TRÍDUO DE SÃO BRÁS - CAPELA SÃO BRÁS - MFII Irmãos e Irmãs,  O Evangelho da MISSA descreve a missão que os Doze mobilizaram pelas aldeias e ...