14 junho 2023

Comer a Carne de Jesus (Homilia Corpus Christi)

 Dt 8,2-16; Sl 147; 1 Cor 10,16-17; Jo 6,51-58



Precisamos comer a carne de Jesus para termos a vida de Deus em nós (Jo 6,51-58). Nós a temos na Eucaristia.

Recordemos: no momento em que o sacerdote pronuncia as palavras da consagração sobre o pão e o vinho, (e somente o sacerdote) esses elementos se convertem no Corpo e no Sangue adorável de Jesus Cristo. Depois da consagração já não há mais pão, há somente o Corpo de Cristo; não há mais vinho, mas tão somente o Sangue de Cristo. Junto com Jesus, se fazem presentes o Pai e o Espírito Santo porque onde está uma Pessoa da Santíssima Trindade estão as outras duas. Na espécie do pão está todo o Cristo, na do vinho também. Em cada fragmento das espécies do pão e em cada gota da espécie do vinho está Cristo inteiro. Quem comunga somente a espécie do pão, recebe também o seu Sangue e toda a realidade que comporta esse sacramento; quem recebe somente a espécie do vinho, recebe também todo o Cristo. Ao partir-se a hóstia, não partimos a Cristo, pois não se trata de uma presença física de Cristo, mas de uma presença misteriosa, que a teologia chama de presença substancial.

A celebração da Eucaristia, a começar do Cenáculo e da Quinta-Feira Santa, tem uma sua longa história, tão longa quanto a história da Igreja. A Eucaristia é, acima de, tudo, um Sacrifício: sacrifício da Redenção e, ao mesmo tempo, sacrifício da nova Aliança, como nós acreditamos



A celebração da Eucaristia no Sacrifício da Missa é, verdadeiramente, a origem e o fim do culto que se lhe tributa fora da Missa. As sagradas espécies (entenda-se as hóstias consagradas) se reservam depois da Missa, principalmente com o objetivo de que os fiéis que não podem estar presentes à Missa, especialmente os enfermos e os de idade avançada, possam unir-se a Cristo e ao seu Sacrifício, que se imola na Missa, pela Comunhão sacramental. 

Além disso, esta conservação das hóstias permite também a prática de tributar adoração a este grande Sacramento, com o culto de latria, que se deve a Deus. Portanto, é necessário que se promovam vivamente aquelas formas de culto e adoração, não só privada mas sim também pública e comunitária, instituídas ou aprovadas pela mesma Igreja.

De acordo com a estrutura de cada igreja e os legítimos costumes de cada lugar, o Santíssimo Sacramento será guardado em um sacrário, na parte mais nobre da Igreja, mais insigne, mais destacada, mais convenientemente adornada e também, pela tranqüilidade do lugar, “apropriado para a oração”, com espaço diante do sacrário, assim com suficientes bancos ou assentos e genuflexórios.  Atenda-se diligentemente, além disso, a todas as prescrições dos livros litúrgicos e às normas do direito, especialmente para evitar o perigo de profanação. [Cânone 938 §3-5]. 

Profanação é desrespeito ou violação do que é santo, sagrado. Afronta, insulto, irreverência. 

Uma dessas profanações acontece quando alguém, ciente de que está em pecado grave, comunga sem se confessar com o sacerdote.É claro que não devemos deixar de Comungar por qualquer falta cometida, mas quando o pecado é grave, mortal, é indispensável a Confissão. Não se pode receber Aquele que é Santo em um coração que não esteja purificado.

Outra profanação seríssima contra a Eucaristia é o uso de Hóstias consagradas para a chamada “missa negra” realizada em cultos demoníacos. Em vários lugares têm havido terríveis profanações da Eucaristia com arrombamentos de Sacrários, roubo de Hóstias e até pisoteamento delas. Diante de tudo isso, é preciso o máximo de cuidado com a proteção da Sagrada Eucaristia nos Sacrários. Esses devem ser muito bem fixados, fechados e protegidos. Quando há adoração do Santíssimo Sacramento exposto no Ostensório, nunca se pode deixar o mesmo sem alguém em adoração e vigilância.

Outro cuidado deve ser ao ser distribuída a Comunhão aos fiéis: é preciso observar se os mesmos as colocam na boca na frente do ministro, como obriga a Igreja. Alguém deve estar ao lado do ministro para verificar isso e proibir que alguém esconda a Hóstia e a leve para casa.


Além disso, todo respeito deve ser observado na Igreja diante do Sacrário. Ao se passar diante dele devemos fazer a genuflexão com um dos joelhos em um ato de adoração. Se passarmos diante do Santíssimo exposto, então, devemos nos ajoelhar com os dois joelhos para esse ato de adoração. Não podemos deixar que a Presença de Deus no meio de nós se torne algo trivial, banal, sem merecer a devida atenção e respeito. Diante Dele é preciso silêncio, adoração e todo respeito.

Salvando a Eucaristia, a Eucaristia nos salvará.


Irmãos e irmãs, uma das inteligências mais privilegiadas da história do pensamento humano foi, sem dúvida, Santo Tomás de Aquino; já em vida, teve um enorme prestígio. A sua obra filosófica e teológica continua sendo uma referência obrigatória. Quando o Papa Urbano IV lhe propôs ser cardeal, Frei Tomás não quis aceitar tal dignidade. O Papa perguntou-lhe se recusava o título por razões de humildade, ao que Tomás de Aquino respondeu: “Não, Santo Padre. Na verdade, eu desejo algo maior”. O Papa surpreendido disse: “Você quer ser Papa?”. Então Santo Tomás manifestou o seu desejo: “O que eu quero é que a festa de Corpus Christi se estenda a toda a Igreja”. O Papa, antes de responder, ficou um pouco meditativo; depois lhe disse: “Pedis muito, Tomás, mas o farei se me prometeres encarregar-vos da composição da liturgia da festa”. E assim foi! 

A festa de Corpus Christi começou a celebrar-se em toda a Igreja Católica por meio da Bula Transiturus, de Urbano IV, do dia 8 de setembro de 1264, e os belíssimos textos que a liturgia da Igreja tem para essa solenidade, tanto na Missa como na Liturgia das Horas, foram escritos por esse grande Santo.


No dia de hoje, ao participarmos da Santa Missa e como não sairemos às ruas em Procissão, mas faremos uma pequena procissão dentro desta Igreja, façamos com fé, com amor, com devoção, com dignidade, em espírito de adoração. Sejamos esmeradamente cuidadosos com o Corpo e o Sangue de Deus. Somente se soubermos cuidar do Corpo Eucarístico do Senhor, cuidaremos da maneira que convém do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, e dos nossos irmãos numa verdadeira fraternidade e solidariedade. Dediquemos ao culto eucarístico os nossos melhores esforços, os melhores ornamentos, os melhores cálices, os melhores cantos. Tudo para Deus!

A Eucaristia é a fonte e o ápice da nossa vida cristã. Sobretudo neste tempo de neopaganismo, é nosso dever defendê-la de todos os ataques malignos, demonstrando, por meio de nossas atitudes, a sacralidade de sua natureza. Salvando a Eucaristia, a Eucaristia nos salvará.


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