Esse é um texto de esperança e fé para esses tempos tão terríveis, com mais crises de fé na Igreja. Mostro aqui uma comparação entre o tempo presente da Igreja com o tempo do pontificado do herético papa Liberio (352-366).
A Igreja nunca adotou heresias, pois a Igreja não é apenas o papa, bispos, mas também os leigos, o povo de Deus. Mas um papa junto com muitos bispos já adotara heresia explícita e perseguia parte do clero e leigos que discordavam da heresia.
A heresia assinada pelo papa Libério, ocorreu no tempo em que, conforme a história, só havia um bispo lutando contra a heresia: Santo Atanásio. Atanásio foi excomungado pelo papa Libério, foi perseguido por imperadores e seus asseclas, foi condenado em sínodos, e morreu como excomungado.
E a heresia da época era simplesmente sobre a divindade de Cristo. Todas as heresias são tenebrosas e relacionadas, mas se há alguma heresia mais terrível para um cristão esta é a negação da divindade de Cristo. Tudo desmorona.
Por um momento, o papa Libério e boa parte dos bispos adotou essa heresia, a heresia de Ário, o arianismo. No arianismo, afirmava que “o Filho de Deus veio do nada" e que ele seria "de uma substância diferente da do Pai. Cristo não é coeterno com Deus, ele foi gerado posteriormente. Teria havido um tempo sem Cristo. Assim, Cristo seria uma criatura superior aos anjos, mas inferior a Deus. Ario queria conciliar a unidade de Deus com a encarnação de Cristo, abandonando a doutrina da Trindade. Cristo não teria o mesmo ser de Deus, nem teria a mesma essência de Deus. As implicações disso são tremendas. Deus não tinha sido crucificado e morto, nem os ensinamentos de Cristo seriam os ensinamentos de Deus.
O Concílio de Nicéia já tinha definido o arianismo como heresia em 325, bem antes do pontificado de Libério. O papa Libério até que resistiu ao imperador que era herético e também aos heréticos do clero. Chegou a ser preso. Mas acabou aceitando um tipo de arianismo, assinou em defesa da heresia e excomungou Atanásio.
Relato uma síntese da vida de Atanasio e um pouco sobre o papa Libério:
"O Papa Júlio morreu no mês de abril de 352 e Libério o sucedeu como Soberano Pontífice. Por dois anos Libério foi favorável à causa de Atanásio; mas finalmente levado ao exílio, ele foi induzido a assinar uma fórmula ambígua, da qual a grande doutrina nicena, o homousios, havia sido cuidadosamente omitido. Em 355, um concílio foi realizado em Milão, onde, apesar da vigorosa oposição de um punhado de leais prelados entre os bispos ocidentais, uma quarta condenação de Atanásio foi anunciada ao mundo. Com seus amigos dispersos, o santo bispo Atanásio no exílio, o Papa Libério denunciado por concordar com os formulários arianos, Atanásio dificilmente poderia esperar escapar. Na noite de 8 de fevereiro de 356, durante os serviços religiosos na Igreja de São Tomás, um bando de homens armados irrompeu para garantir sua prisão. Era o início de seu terceiro exílio de Atanásio.
Hierarquia da Igreja aceitando heresias já condenadas pela Igreja? Estamos vendo isso no atual século? Podemos dizer que atualmente na Igreja há resistência as ordens políticas globalistas de nossa época? O documento de Abu Dhabi é herético?
Então, como a Igreja sobreviveu no século IV à heresia assinada pelo papa Libério e defendida por tantos bispos da época e por alguns imperadores?
Pelo poder dos leigos, que amavam principalmente a Nosso Senhor Jesus Cristo e o bispo Atanásio.
O filósofo Edward Feser fez uma análise de São John Henry Newman sobre o momento da Igreja com o pontificado de Libério, no qual uma doutrina contra a divindade de Cristo foi defendida pela hierarquia da Igreja por seis décadas. Mas deixamos esse capítulo para as próximas cenas!
“A Igreja não existe para nos manter ocupados, como uma instituição mundana, e para conservar-se viva, mas para ser o nosso acesso à Vida Eterna.” (Bento XVI).
Peçamos ao Senhor, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus Verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, que tenhamos a força de Santo Atanásio.
Deus do céu. Que tempos!
Pe. Cassio S Souza
Pároco na Paróquia Nossa Senhora de Fátima.