30 dezembro 2023

Homilia Novena da Sagrada Família de Nazaré (Conj. Fernando Collor)

 Irmãos e irmãs! 

Estamos concluindo a Semana Santa do Advento para o Santo Natal e está comunidade celebra com a Novena da Sagrada Família de Nazaré! Que riqueza espiritual e ao mesmo tempo que retiro belíssimo para as famílias desta comunidade.

Estamos acompanhando a liturgia da Palavra desta Semana Santa do Advento e observamos que o profeta João Batista, a voz que anuncia o Cordeiro de Deus, no ventre da mãe, dança diante da arca da Aliança, como David; e reconhece deste modo: a virgem Maria é a nova arca da aliança, perante a qual o coração exulta de alegria.

Todas as tarde a Igreja Católica, na Oração das Vésperas da Liturgia das Horas, através de Sacerdotes e vários de seus fiéis consagrados ou não, rezam este cântico maravilhoso: “Minha alma engrandece ao Senhor, e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador…” (Lc 1,46-55). Esta bela composição mariana é conhecida como “magnificat” por causa das primeiras palavras latinas do cântico: “Magnificat anima mea Dominum…”. Trata-se de um texto riquíssimo e que mostra como Nossa Senhora meditava profundamente nas Escrituras de Israel, pois a composição parece uma bela colcha de retalhos, pois cita o livro de Samuel, de Isaías, de Jó, os Salmos etc.

De todos os versículos do Magnificat, aquele que mais me impressiona é este: “porque olhou para a humildade de sua serva, doravante todas as gerações me chamarão de bem-aventurada” (Lc 1,48). Se essas palavras não fossem ditas pela mulher mais humilde do Universo, eu diria que seria a música do orgulho. Contudo, nos lábios de Nossa Senhora, elas são o reflexo de quem anda na verdade: não pode negar as maravilhas de Deus nela mesma, confessando o poder de Deus que a faz humilde, não a sua humildade em si mesma: “minha alma engrandece ao Senhor (…), pois o Todo-poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1,46.49). 

Nesta liturgia somos mais uma vez convidados a imitá-la: andemos na verdade, não neguemos as maravilhas de Deus e, ao mesmo tempo, estejamos sempre no nosso lugar. Quem é humilde se enxerga; quem não, é míope ou, quiçá, inclusive cego.

A Igreja sempre cuidou da família. Por um lado, por acreditar ser ela não apenas a célula mater da sociedade e o santuário da vida, mas também a “Igreja doméstica” (Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 11). E, por outro, porque está convencida de que “o bem-estar da pessoa e da sociedade humana e cristã está intimamente ligado com uma favorável situação da comunidade conjugal e familiar (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n. 47). O Papa São João Paulo II publicou uma Exortação Apostólica sobre a família. Nela, afirma com convicção que a evangelização depende essencialmente da saúde espiritual dessa instituição, porque, “onde uma legislação antirreligiosa pretende impedir até a educação na fé, onde uma incredulidade difundida ou um secularismo invasor tornam praticamente impossível um verdadeiro crescimento religioso, aquela que poderia ser chamada “Igreja doméstica” fica como único ambiente, no qual crianças e jovens podem receber uma autêntica catequese”.

Com toda certeza, a Igreja deve dialogar com a cultura moderna, mas sem perder as suas características transcendentais, sem cair na tentação de mundanizar-se, sem diluir a sua mensagem profunda por medo de ser rejeitada pela cultura moderna ou fazer-se acolher por ela. A Igreja católica não evolui com a história humana – tão mutável e contraditória – ela tem uma dinâmica intrínseca de desenvolvimento, um DNA diferente. Ela é Verdade imutável, Fonte de Vida e Caminho de Salvação. Características herdadas do seu próprio fundador: Jesus Cristo. E Ele deu a ela – sua esposa – a ordem de evangelizar a humanidade, não ser moldada por ela; de guiar os homens, não ser guiada por eles; de santificar a história, não ser desenvolvida por ela.

Os ensinamentos da Igreja são permanentes e universais, já que se baseiam em duas realidades imutáveis: a natureza humana criada por Deus e as verdades eternas reveladas por Jesus Cristo. Se esses ensinamentos soam estranhos e inacessíveis para muitos, é porque muitos perderam contato com tais ensinamentos. O desafio da Igreja é, portanto, saber porque ocorreu esse divórcio com os ensinamentos da Igreja e de que forma ela pode curar as feridas da sociedade contemporânea e reconduzir o comportamento dos cristãos à pureza dos costumes e à integridade da doutrina que foram por eles abandonados, para devolver ao mundo a saúde perdida sem se deixar contagiar pela sua doença. Só se pode eliminar o mal utilizando-se de medicamentos corretos e extirpando as raízes perversas que o produziram. 

A Igreja é uma Mãe que, sem deixar de manifestar compreensão pela crise de alguns casamentos, tem a missão de salvar e santificar os seus fiéis, inclusive na sua vida familiar. E isso ela só pode realizar, mantendo-se leal à Verdade. Assim sendo, são os fiéis que devem acatar como bons filhos os ensinamentos pastorais da Igreja, que nada mais faz que repetir a verdade pregada por Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida. 

A Igreja não é um lobby cultural que propaga uma ideologia, mas uma instituição de origem divina, fundada por Jesus Cristo com o fim de ser guardiã da Verdade revelada e de conduzir, sob a assistência permanente do Espírito Santo, cada ser humano ao encontro feliz com o Pai. Uma pessoa só pode caminhar numa direção se tiver convicções íntimas de que esse é o Caminho certo, convicções que afetam a sua vida privada cotidiana, a Igreja tem o dever e o direito de dar orientações para essa vida, com o risco de não cumprir a sua missão.

A Misericórdia divina pode superar a sua Justiça, mas não violá-la, do contrário seria injusta; cairia na condenação bíblica: “Ai daqueles que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que mudam as trevas em luz e a luz em trevas, que tornam doce o que é amargo, e amargo o que é doce!” (Is 5,20).

A misericórdia, portanto, não é uma dispensa dos Mandamentos de Deus e das leis da Igreja. Ela procede do amor. E sabemos que não existe amor sem justiça e sem verdade. São Paulo diz que amor verdadeiro é aquele que realiza as obras da Lei (cfr. Gl 5, 13-18). Com efeito, todo Mandamento de Deus, até o mais severo, tem o rosto do amor divino, do amor misericordioso.

A Igreja não pode se comportar como um charlatão que ilude os que sofrem oferecendo-lhes poções que não fazem sentir a dor, mas camuflam a doença e a agravam. A Igreja deve agir como o bom samaritano – figura de Cristo -, como um médico sábio que visa curar os doentes e feridos espirituais com medicamentos eficazes, embora dolorosos e amargos, para libertá-los do mal e poupá-los de recaídas.

Por causa das feridas do pecado original, ela sabe também que essa meta não é fácil de ser alcançada, ainda mais numa sociedade onde os ambientes, a cultura e os meios de comunicação favorecem a luxúria. No entanto, Deus não exige de seus filhos alcançar um fim impraticável, cumprir um compromisso acima das suas forças. Por isso, onde lhes faltam as forças naturais, a Providência divina lhes dá forças sobrenaturais, a graça santificante, que os faz aptos para viverem as virtudes em grau máximo, também a castidade. Por isso Jesus afirmou: “meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30).

Amar a família

Há muito o que fazer e com urgência. Em vez de reclamar da situação ou resignar-se ao pior, achando que a causa da família está perdida, está é a hora dos cristãos porem mãos à obra para recuperar o terreno perdido, indo contra a corrente e fazendo uso de todos os meios necessários, lembrando que “Tudo posso n’ Aquele que me conforta” (Fil 4,13).

“Amar a família significa saber estimar os seus valores e possibilidades, promovendo-os sempre. Amar a família significa descobrir os perigos e os males que a ameaçam, para poder superá-los. Amar a família significa empenhar-se em criar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento. E, por fim, forma eminente de amor à família cristã de hoje, muitas vezes tentada por incomodidades e angustiada por crescentes dificuldades, é dar-lhe novamente razões de confiança em si mesma, nas riquezas próprias que lhe advém da natureza e da graça e na missão que Deus lhe confiou. É necessário que as famílias do nosso tempo tomem novamente altura! É necessário que sigam a Cristo” (Papa São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris consortio, Conclusão).

A Sagrada Família de Nazaré é o modelo por excelência da família. Nela o amor entre os membros que a formam é absoluto. Nela se dá tudo o que a família humana, seja naturalmente e sobrenaturalmente, deve ser. A ela encomendamos as famílias desta paróquia, para que a frase de São João Paulo II se faça realidade: “Família, torna-te aquilo que és”.

 Reconheçamos a nossa pequenez para que entremos no caminho da verdade, vejamos as maravilhas de Deus em nós para exaltá-lo, tenhamos por certo que precisamos da ajuda divina para progredir.

Solenidade do Natal do Senhor - Missa da Noite

 Irmãos e irmãs,

Começo esta homilia com a descrição do grande literata russo, F. Dostoievski. Uma das suas obras, “Noites brancas”, começa assim: “Era uma noite maravilhosa, uma dessas noites que apenas são possíveis quando somos jovens, amigo leitor. O céu estava tão cheio de estrelas, tão luminoso, que quem erguesse os olhos para ele se veria forçado a perguntar a si mesmo: será possível que sob um céu assim possam viver homens irritados e caprichosos?”

Nesta celebração litúrgica entramos no tempo de Deus, o kairós: no Natal, não celebramos o ‘aniversário’ de Jesus, mas o ‘hoje’ da Encarnação... A Liturgia, pois, não é recordação ou repetição do passado, mas sim atualização”.

“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz.” (Is 9,1). Assim inicia a Liturgia da Palavra desta Missa da noite de Natal. O Natal, a solenidade do nascimento de Jesus, o Salvador, é a festa da luz! Ele mesmo, na sua pregação dirá “Eu sou a luz do mundo!” (Jo 8,12). Os enfeites luminosos de Natal que enfeitamos em nossas casas, também são um símbolo dessa identidade de Cristo: a luz veio ao mundo.

Para entendermos a beleza e a grandeza da luz precisamos ver o terror da escuridão. É fato: Só sentimos a importância da lâmpada acesa quando a energia acaba. O profeta diz que essa escuridão é algo trágico: “para os que habitavam na sombra da morte, uma luz resplandeceu.” (Is 9,1). Trevas são morte. Jesus não vem como uma luz de um poste da praça, Ele vem como luz do ser humano. A humanidade sem Deus habita na região da morte! 

A situação que o pecado colocou o homem é de oposição à luz. Na oração do início da Missa rezei dizendo ao Pai do céu: “Ó Deus que fizeste resplandecer esta noite santíssima…” 

Irmãos e Irmãs, esta noite não significa só o céu escuro, mas, de algum modo, nós, humanidade sem comunhão com Deus. O estado da humanidade antes de Cristo era de escuridão e morte, esse também é o estado da alma em pecado. Sem Deus o fim é morte, sem Deus, sem estar em comunhão com sua luz, somos trevas, somos maus e sem rumo, e mesmo que materialmente pareça tudo bem e estável, divertido e cômodo, estamos sem rumo e sem vida verdadeira. 

A falta da consciência do horror que é o pecado e a escuridão interior que é a ausência de Deus, podem fazer com que o homem não valorize a luz. Nossa época é marcada pela falta de senso do pecado. O mal tem sido exaltado, aplaudido e ensinado, as trevas parecem dominar e ganhar espaço, parecem intransponíveis e insuperáveis. Essa versão do homem em sua maldade e orgulho parece ser a vitoriosa e justa.

Meus irmãos e irmãs, se olhamos para as trevas não é para desanimarmos, é para nos maravilharmos com a luz! O povo que andava nas trevas viu uma grande luz! Deus não deixou o homem entregue ao mal. O Evangelho da Missa do dia de Natal, amanhã, diz que “a luz veio para os seus, mas os seus não o acolheram.” (Cf. Jo 1,11). Apesar do poder das trevas e do fechamento dos corações, Deus que não nos trata como exigem nossas faltas, e nos ama, rompe o aparente poder do mal, atravessa a suposta onipotência da sombra da morte e vem nos abrir a possibilidade de ver a luz, de comungar a luz! 

Como é interessante ver na cena do Natal, narrada pelos Evangelhos, que frente aos exércitos de Herodes, às fechaduras esnobes das hospedarias lotadas e às condições desfavoráveis de clima, tempo e espaço, Deus reina, o Príncipe da Paz chega (Cf. Is 9), Ele vem frágil precisando de colo, seus mantos reais são faixas que trouxe a Virgem Maria, sua guarda é São José, sua corte os pobres pastores e os estrangeiros Magos. Deus desce manso, afável, pequeno para convidar-nos a seu amor salvador. Ele vence nossa escuridão e orgulho, nossa ilusão de sermos poderosos e auto suficientes com sua pobreza, humildade e frágil dependência. Ele não quer nos deixar nas sombras da morte. Mesmo que não percebamos a escuridão que nos metemos, Ele nos amou por primeiro (Cf. 1Jo 4,19).

A profecia escutada no início do Advento se cumpriu: Ele rompeu o céu, atravessou nossa escuridão para nos encontrar! Desmanchemos as montanhas, o orgulho, para O acolhermos. 

São Paulo na segunda leitura da Missa desta noite santa parece dar-nos o caminho para acolhermos a luz, diz que Jesus Cristo, “nos ensinou a abandonar a impiedade e as paixões mundanas” (Cf. Tt 2). O abaixamento de Deus, o seu esvaziamento para chegar até nós, para nos comunicar sua luz, é um convite do Rei a sairmos da podridão, do vazio e do escuro para adentrar em sua luz restauradora e impressionante. Deixar a luz entrar é, consequentemente, fazer a escuridão sair. O menino singelo, da manjedoura, ergue os braços para que O acolhamos, “um menino nos foi dado.” (Is 9), nasceu, para nós, um Salvador, como diz o responsório da Missa de amanhã do dia de Natal. 

Abramos nossa alma à luz, não nos acostumemos com as trevas! Deus vem para nos resgatar, não achemos que estamos seguros sem Ele, sem unidade verdadeira com sua doutrina. Entremos em sua luze

Hoje, ao olharmos de modo mais fixo o presépio, que chama a nossa atenção as figuras de Maria e José, eles são modelos de abertura total a Deus. Nossa Senhora e São José mostram sua docilidade sendo entregues à providência, se deixando conduzir, confiando, obedecendo. Fé é obediência! Por estarmos acostumados com as trevas, muitas vezes se abrir à luz parece mais inseguro, menos sensato e garantido, mas se obedecermos ao Rei da manjedoura, sentiremos seu afago e, um dia, envoltos em sua luz, viveremos no Reino eterno onde qualquer sombra da morte já foi superada e a fragilidade foi mudada em onipotência.

Que Nossa Senhora e São José nos ajudem a nos aproximarmos da gruta, e escutarmos acolhendo o convite de Jesus – “vinde, eu sou a luz do mundo.” Amém!


Uma novena a São João Apóstolo e Evangelista!

 Irmãos e irmãs! 

Hoje inicia-se mais uma novena a São João Apóstolo e Evangelista! 

Estamos na Semana Santa do Advento para o Santo Natal!

O Evangelho de hoje mostra-nos a profecia de Jeremias sendo realizada: “farei brotar de David um rebento justo - diz o Senhor”. José, filho de David recebe o anúncio desse nascimento que está próximo, e também é anunciado pelo profeta Isaías: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho”.

Observamos que o cumprimento desta promessa, tão longamente preparado, se realiza com um drama pessoal e muito doloroso. José pensava ter de renunciar a Maria, ter de renunciar a casar com Ela. Os grandes dons de Deus são geralmente precedidos de grandes sofrimentos. Deus quer alargar o nosso coração, muito pequeno para receber os seus dons. Uma vocação não se realiza sem drama e sofrimento: seja a vocação matrimonial, sejam as diversas vocações de consagração e de serviço na Igreja. Muitos fracassos na fidelidade à própria vocação é devido não levar a sério as provações, dificuldades que enfrentará! 

A primeira leitura e o evangelho é ligada pelo “rebento justo” que floresce no tronco de David e “que será rei e governará com sabedoria”. Este rei misterioso que nasce por obra do Espírito, é o Messias - Jesus Cristo -  que «salvará o povo dos seus pecados». Deus tem o sim de José, um homem simples e de fé profunda, que não põe dificuldade ao chamado de Deus; mergulha no mistério da Salvação, mesmo sem o compreender completamente, acredita e colabora com docilidade e confiança para que o Senhor Deus conduza a história da salvação cujo centro é o seu Filho Jesus Cristo.

O homem justo não é aquele que fica na teoria, mas aquele que lê os acontecimentos da vida à luz da Palavra de Deus.

Estar disposto a obedecer a Deus, é uma condição prévia para entrar em diálogo com Ele e servi-lo. A Igreja necessita sempre de pessoas que entreguem o seu coração indiviso (sem divisão) ao Senhor como hóstia viva, santa, agradável a Deus. A Igreja necessita também de famílias santas, de lares cristãos que sejam verdadeiro fermento de Cristo e forjem (modelem) no seu seio muitas vocações de entrega plena a Deus.

A Virgem Maria e São José, fizeram-se pobres na sua vontade e dispostos colaboraram efetivamente na história da nossa salvação realizada em Jesus Cristo, Morto e Ressuscitado.

Mais uma vez os fiéis católicos desta cidade de Cumbe, iniciando esta novena, recordam um membro muito importante do colégio apostólico: João, filho de Zebedeu e irmão de Tiago. O seu nome, tipicamente judaico, significa "o Senhor fez a graça". Estava consertando as redes na margem do lago de Tiberíades, quando Jesus o chamou juntamente com o irmão (cf. Mt 4, 21; Mc 1, 19). João pertence também ao grupo restrito, que Jesus chama em determinadas ocasiões.


Está com Pedro e com Tiago quando Jesus, em Cafarnaum, entra em casa de Pedro para curar a sua sogra (cf. Mc 1, 29); com os outros dois segue o Mestre na casa de Jairo, chefe da sinagoga, cuja filha será chamada à vida (cf. Mc 5, 37); segue-o quando ele sobe ao monte para ser transfigurado (cf. Mc 9, 2); está ao lado dele no Monte das Oliveiras quando, face à imponência do Templo de Jerusalém, pronuncia o sermão sobre o fim da cidade e do mundo (cf. Mc 13, 3); e, finalmente, está ao seu lado quando, no Horto do Getsêmani, se afasta/retira para rezar ao Pai antes da Paixão (cf. Mc 14, 33). Pouco antes da Páscoa, quando Jesus escolhe dois discípulos para os enviar a preparar a sala para a Ceia, confia a ele e a Pedro esta tarefa (cf. Lc 22, 8).

Esta sua posição de relevo no grupo dos Doze torna de certa forma compreensível a iniciativa tomada um dia pela mãe: ela aproximou-se de Jesus para lhe pedir que os dois filhos, precisamente João e Tiago, pudessem sentar-se um à sua direita e outro à sua esquerda no Reino (cf. Mt 20, 20-21). Como sabemos, Jesus respondeu fazendo por sua vez uma pergunta: pediu que eles estivessem dispostos a beber do cálice que ele mesmo estava para beber (cf. Mt 20, 22).

A intenção que estava por detrás daquelas palavras era a de despertar os dois discípulos, introduzi-los no conhecimento do mistério da sua pessoa e de fazê-los refletir sobre a futura chamada a ser suas testemunhas até à prova suprema do sangue.

De facto, pouco depois Jesus esclareceu que não veio para ser servido mas para servir e dar a própria vida em resgate pela multidão (cf. Mt 20, 28). Nos dias seguintes à ressurreição, encontramos "os filhos de Zebedeu" empenhados com Pedro e outros discípulos numa noite infrutuosa, à qual se segue, pela intervenção do Ressuscitado, a pesca milagrosa: será "o discípulo que Jesus amava" quem reconhece primeiro "o Senhor" e quem o indica a Pedro (cf. Jo 21, 1-13).

Na Igreja de Jerusalém, João ocupou um lugar de realce na orientação do primeiro agrupamento de cristãos. De facto, Paulo estava incluído entre os que Ele chama as "colunas" daquela comunidade (cf. Gl 2, 9). Na realidade, nos Atos dos Apóstolos, Lucas apresenta-o juntamente com Pedro quando vão rezar no Templo (cf. Act 3, 1-4.11) ou estão diante do Sinédrio para testemunhar a própria fé em Jesus Cristo (cf. Act 4, 13.19). Juntamente com Pedro é enviado pela Igreja de Jerusalém para confirmar aqueles que na Samaria aceitaram o Evangelho, pregando por eles a fim de que recebam o Espírito Santo (cf. Act 8, 14-15).

Em particular, deve recordar-se o que afirma, juntamente com Pedro, diante do Sinédrio que os está a processar: "Quanto a nós, não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos" (Act 4, 20). Precisamente esta franqueza ao confessar a própria fé permanece um exemplo e uma admoestação para todos nós estarmos sempre prontos para declarar com determinação a nossa inabalável adesão a Cristo, antepondo a fé a qualquer cálculo ou interesse humano.

Segundo a tradição, João é "o discípulo predileto", que no Quarto Evangelho apoia a cabeça no peito do Mestre durante a Última Ceia (cf. Jo 13, 21), encontra-se aos pés da Cruz juntamente com a Mãe de Jesus (cf. Jo 19, 25) e, por fim, é testemunha quer do túmulo vazio quer da própria presença do Ressuscitado (cf. Jo 20, 2; 21, 7).

Nesta novena recebam uma lição importante para a vossa vida: o Senhor deseja fazer de cada um de nós um discípulo que vive uma amizade pessoal com Ele. Para realizar isto não é suficiente segui-lo e ouvi-lo exteriormente; é preciso também viver com e como Ele.

Isto é possível apenas no contexto de uma relação de grande familiaridade, repleto do calor de uma total confiança; por isso um dia Jesus disse: "Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos... Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai" (Jo 15, 13.15).

O culto de João apóstolo afirmou-se a partir da cidade de Éfeso, onde, segundo uma antiga tradição, trabalhou por muito tempo, falecendo ali com uma idade extraordinariamente avançada, sob o Imperador Trajano. Em Éfeso o imperador Justiniano, no século VI, mandou construir em sua honra uma grande basílica, da qual permanecem ainda imponentes ruínas.

Precisamente no Oriente ele gozou e goza ainda de grande veneração. segundo a tradição morreu sob o imperador Trajano e em intensa contemplação, quase na atitude de quem convida ao silêncio.

Meus Irmãos e irmãs, sem adequado recolhimento não é possível aproximar-se do mistério supremo de Deus e da sua revelação.  

O Senhor nos ajude, e de modo especial aos que vierem todas as noites de novena, a estarmos com disposição na escola de São João para aprender a grande lição do amor, de modo a nos sentirmos amados por Cristo "até ao fim" (Jo 13, 1) e imitando a Virgem Maria e São José, vivermos nossa vida por Ele.

SOLENIDADE DO NATAL - MISSA DO DIA

 Caros irmãos e irmãs,


A liturgia deste dia é um hino ao amor de Deus. Canta a iniciativa de Deus que, por amor, se vestiu da nossa humanidade e “estabeleceu a sua tenda entre nós”. Jesus, o menino nascido em Belém, Deus Filho veio ter conosco e falou-nos, com palavras e gestos humanos, para nos doar a Vida plena e para nos elevar à dignidade de “filhos de Deus”.

Na primeira leitura, o profeta Isaías anuncia a chegada de Deus, o Salvador. Ele é o rei que traz a paz e a salvação, proporcionando ao seu Povo a felicidade sem fim. É um convite a substituir a tristeza pela alegria, o desalento pela esperança.

A segunda leitura mostra o agir de Deus Salvador. A primeira etapa da história da Salvação, acontece através dos porta-vozes de Deus: os profetas; eles anunciaram a ação salvadora e libertadora de Deus.

A segunda etapa da história da salvação: “nestes dias que são os últimos”, Deus manifestou-Se através do próprio “Filho” – Jesus Cristo, o “menino de Belém”, a Palavra plena, definitiva, perfeita, Deus vem ao nosso encontro para ser o caminho da salvação. 

O Evangelho desenvolve a segunda leitura e apresenta a “Palavra” viva de Deus. Jesus Cristo é a Palavra viva e Deus, que revela aos homens o verdadeiro caminho para chegar à salvação.

O Verbo fez-Se carne, para que assim conhecêssemos o amor de Deus: “Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigênito, para que vivamos por Ele" (I Jo 4, 9). "Porque Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho Unigênito, para que todo o homem que acredita n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3, 16).


O Verbo fez-Se carne, para ser o nosso modelo de santidade: "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim [...]" (Mt 11, 29). "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim" (Jo 14, 6). E o Pai, na montanha da Transfiguração, ordena: "Escutai-o" (Mc 9, 7). De fato, Ele é o modelo das bem-aventuranças e a norma da Lei nova: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei" (Jo 15, 12). Este amor implica a oferta efetiva de nós mesmos, no seu seguimento.

O Verbo fez-Se carne, para nos tornar "participantes da natureza divina" (2 Pe 1, 4): "Pois foi por essa razão que o Verbo Se fez homem, e o Filho de Deus Se fez Filho do Homem: foi para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a adopção divina, se tornasse filho de Deus" (83). "Porque o Filho de Deus fez-Se homem, para nos fazer deuses". O Filho Unigênito de Deus, querendo que fôssemos participantes da sua divindade, assumiu a nossa natureza para que, feito homem, fizesse os homens deuses".

A fé na verdadeira Encarnação do Filho de Deus é o sinal distintivo da fé cristã: “Nisto haveis de reconhecer o Espírito de Deus: todo o espírito que confessa a Jesus Cristo encarnado é de Deus” (1 Jo 4, 2). É esta a alegre convicção da Igreja desde o seu princípio, ao cantar “o grande mistério da piedade”: “Ele manifestou-Se na carne” (1 Tm 3, 16).

Assim, a Igreja confessa que Jesus é inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro homem. É verdadeiramente o Filho de Deus feito homem, nosso irmão, e isso sem deixar de ser Deus, nosso Senhor:

“Ó Filho único e Verbo de Deus, sendo imortal. Vos dignastes, para nossa salvação, encarnar no seio da Santa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, e sem mudança Vos fizestes homem e fostes crucificado! Ó Cristo Deus, que por Vossa morte esmagastes a morte, que sois um da Santíssima Trindade, glorificado com o Pai e o Espírito Santo, salvai-nos!”

Uma vez que o Verbo Se fez carne, assumindo uma verdadeira natureza humana, o corpo de Cristo era limitado (Fl 2,7: mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano.”). Portanto, o rosto humano de Jesus pode ser “pintado”. No VII Concílio ecuménico, a Igreja reconheceu como legítimo que ele fosse representado em santas imagens.

Ao mesmo tempo, a Igreja sempre reconheceu que, no corpo de Jesus, “Deus que, por sua natureza, era invisível, tornou-se visível aos nossos olhos”. Com efeito, as particularidades individuais do corpo de Cristo exprimem a pessoa divina do Filho de Deus. Este fez seus os traços do seu corpo humano, de tal modo que, pintados numa imagem sagrada, podem ser venerados porque o crente que venera a sua imagem, “venera nela a pessoa nela representada.

Um dia, durante as festas do Natal, S. Francisco de Assis andava chorando e suspirando pelos caminhos e florestas, e parecia inconsolável. Perguntaram-lhe a causa de sua dor e ele respondeu: “Como quereis que eu não chore, vendo que o amor não é amado? Vejo um Deus amar o homem até a loucura, e o homem ser tão ingrato a esse Deus!” Se a ingratidão dos homens afligia tanto o coração de S. Francisco, imaginemos quanto mais afligiu o coração de Jesus Cristo!


Jesus nasceu na humildade dum estábulo, no seio duma família pobre. 

Tornar-se criança diante de Deus é a condição para entrar no Reino, e para isso, é preciso abaixar-se, tornar-se pequeno. Mais ainda: é preciso nascer do Alto (Jo 3, 7), nascer de Deus para se tornar filho de Deus. O mistério do Natal cumpre-se em nós quando Cristo Se forma em nós ( Cf. Mt 18, 3-4. Mt 23, 12.  Jo 1, 13. Jo 1, 12. Cf. Gl 4, 19.). O Natal é o mistério desta admirável permuta:

“Oh admirável permuta! O Criador do género humano, tomando corpo e alma, dignou-Se nascer duma Virgem; e, feito homem sem progenitor humano, tornou-nos participantes da sua divindade!

Assim Seja! 


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