30 dezembro 2023

Homilia Novena da Sagrada Família de Nazaré (Conj. Fernando Collor)

 Irmãos e irmãs! 

Estamos concluindo a Semana Santa do Advento para o Santo Natal e está comunidade celebra com a Novena da Sagrada Família de Nazaré! Que riqueza espiritual e ao mesmo tempo que retiro belíssimo para as famílias desta comunidade.

Estamos acompanhando a liturgia da Palavra desta Semana Santa do Advento e observamos que o profeta João Batista, a voz que anuncia o Cordeiro de Deus, no ventre da mãe, dança diante da arca da Aliança, como David; e reconhece deste modo: a virgem Maria é a nova arca da aliança, perante a qual o coração exulta de alegria.

Todas as tarde a Igreja Católica, na Oração das Vésperas da Liturgia das Horas, através de Sacerdotes e vários de seus fiéis consagrados ou não, rezam este cântico maravilhoso: “Minha alma engrandece ao Senhor, e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador…” (Lc 1,46-55). Esta bela composição mariana é conhecida como “magnificat” por causa das primeiras palavras latinas do cântico: “Magnificat anima mea Dominum…”. Trata-se de um texto riquíssimo e que mostra como Nossa Senhora meditava profundamente nas Escrituras de Israel, pois a composição parece uma bela colcha de retalhos, pois cita o livro de Samuel, de Isaías, de Jó, os Salmos etc.

De todos os versículos do Magnificat, aquele que mais me impressiona é este: “porque olhou para a humildade de sua serva, doravante todas as gerações me chamarão de bem-aventurada” (Lc 1,48). Se essas palavras não fossem ditas pela mulher mais humilde do Universo, eu diria que seria a música do orgulho. Contudo, nos lábios de Nossa Senhora, elas são o reflexo de quem anda na verdade: não pode negar as maravilhas de Deus nela mesma, confessando o poder de Deus que a faz humilde, não a sua humildade em si mesma: “minha alma engrandece ao Senhor (…), pois o Todo-poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1,46.49). 

Nesta liturgia somos mais uma vez convidados a imitá-la: andemos na verdade, não neguemos as maravilhas de Deus e, ao mesmo tempo, estejamos sempre no nosso lugar. Quem é humilde se enxerga; quem não, é míope ou, quiçá, inclusive cego.

A Igreja sempre cuidou da família. Por um lado, por acreditar ser ela não apenas a célula mater da sociedade e o santuário da vida, mas também a “Igreja doméstica” (Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 11). E, por outro, porque está convencida de que “o bem-estar da pessoa e da sociedade humana e cristã está intimamente ligado com uma favorável situação da comunidade conjugal e familiar (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n. 47). O Papa São João Paulo II publicou uma Exortação Apostólica sobre a família. Nela, afirma com convicção que a evangelização depende essencialmente da saúde espiritual dessa instituição, porque, “onde uma legislação antirreligiosa pretende impedir até a educação na fé, onde uma incredulidade difundida ou um secularismo invasor tornam praticamente impossível um verdadeiro crescimento religioso, aquela que poderia ser chamada “Igreja doméstica” fica como único ambiente, no qual crianças e jovens podem receber uma autêntica catequese”.

Com toda certeza, a Igreja deve dialogar com a cultura moderna, mas sem perder as suas características transcendentais, sem cair na tentação de mundanizar-se, sem diluir a sua mensagem profunda por medo de ser rejeitada pela cultura moderna ou fazer-se acolher por ela. A Igreja católica não evolui com a história humana – tão mutável e contraditória – ela tem uma dinâmica intrínseca de desenvolvimento, um DNA diferente. Ela é Verdade imutável, Fonte de Vida e Caminho de Salvação. Características herdadas do seu próprio fundador: Jesus Cristo. E Ele deu a ela – sua esposa – a ordem de evangelizar a humanidade, não ser moldada por ela; de guiar os homens, não ser guiada por eles; de santificar a história, não ser desenvolvida por ela.

Os ensinamentos da Igreja são permanentes e universais, já que se baseiam em duas realidades imutáveis: a natureza humana criada por Deus e as verdades eternas reveladas por Jesus Cristo. Se esses ensinamentos soam estranhos e inacessíveis para muitos, é porque muitos perderam contato com tais ensinamentos. O desafio da Igreja é, portanto, saber porque ocorreu esse divórcio com os ensinamentos da Igreja e de que forma ela pode curar as feridas da sociedade contemporânea e reconduzir o comportamento dos cristãos à pureza dos costumes e à integridade da doutrina que foram por eles abandonados, para devolver ao mundo a saúde perdida sem se deixar contagiar pela sua doença. Só se pode eliminar o mal utilizando-se de medicamentos corretos e extirpando as raízes perversas que o produziram. 

A Igreja é uma Mãe que, sem deixar de manifestar compreensão pela crise de alguns casamentos, tem a missão de salvar e santificar os seus fiéis, inclusive na sua vida familiar. E isso ela só pode realizar, mantendo-se leal à Verdade. Assim sendo, são os fiéis que devem acatar como bons filhos os ensinamentos pastorais da Igreja, que nada mais faz que repetir a verdade pregada por Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida. 

A Igreja não é um lobby cultural que propaga uma ideologia, mas uma instituição de origem divina, fundada por Jesus Cristo com o fim de ser guardiã da Verdade revelada e de conduzir, sob a assistência permanente do Espírito Santo, cada ser humano ao encontro feliz com o Pai. Uma pessoa só pode caminhar numa direção se tiver convicções íntimas de que esse é o Caminho certo, convicções que afetam a sua vida privada cotidiana, a Igreja tem o dever e o direito de dar orientações para essa vida, com o risco de não cumprir a sua missão.

A Misericórdia divina pode superar a sua Justiça, mas não violá-la, do contrário seria injusta; cairia na condenação bíblica: “Ai daqueles que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que mudam as trevas em luz e a luz em trevas, que tornam doce o que é amargo, e amargo o que é doce!” (Is 5,20).

A misericórdia, portanto, não é uma dispensa dos Mandamentos de Deus e das leis da Igreja. Ela procede do amor. E sabemos que não existe amor sem justiça e sem verdade. São Paulo diz que amor verdadeiro é aquele que realiza as obras da Lei (cfr. Gl 5, 13-18). Com efeito, todo Mandamento de Deus, até o mais severo, tem o rosto do amor divino, do amor misericordioso.

A Igreja não pode se comportar como um charlatão que ilude os que sofrem oferecendo-lhes poções que não fazem sentir a dor, mas camuflam a doença e a agravam. A Igreja deve agir como o bom samaritano – figura de Cristo -, como um médico sábio que visa curar os doentes e feridos espirituais com medicamentos eficazes, embora dolorosos e amargos, para libertá-los do mal e poupá-los de recaídas.

Por causa das feridas do pecado original, ela sabe também que essa meta não é fácil de ser alcançada, ainda mais numa sociedade onde os ambientes, a cultura e os meios de comunicação favorecem a luxúria. No entanto, Deus não exige de seus filhos alcançar um fim impraticável, cumprir um compromisso acima das suas forças. Por isso, onde lhes faltam as forças naturais, a Providência divina lhes dá forças sobrenaturais, a graça santificante, que os faz aptos para viverem as virtudes em grau máximo, também a castidade. Por isso Jesus afirmou: “meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30).

Amar a família

Há muito o que fazer e com urgência. Em vez de reclamar da situação ou resignar-se ao pior, achando que a causa da família está perdida, está é a hora dos cristãos porem mãos à obra para recuperar o terreno perdido, indo contra a corrente e fazendo uso de todos os meios necessários, lembrando que “Tudo posso n’ Aquele que me conforta” (Fil 4,13).

“Amar a família significa saber estimar os seus valores e possibilidades, promovendo-os sempre. Amar a família significa descobrir os perigos e os males que a ameaçam, para poder superá-los. Amar a família significa empenhar-se em criar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento. E, por fim, forma eminente de amor à família cristã de hoje, muitas vezes tentada por incomodidades e angustiada por crescentes dificuldades, é dar-lhe novamente razões de confiança em si mesma, nas riquezas próprias que lhe advém da natureza e da graça e na missão que Deus lhe confiou. É necessário que as famílias do nosso tempo tomem novamente altura! É necessário que sigam a Cristo” (Papa São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris consortio, Conclusão).

A Sagrada Família de Nazaré é o modelo por excelência da família. Nela o amor entre os membros que a formam é absoluto. Nela se dá tudo o que a família humana, seja naturalmente e sobrenaturalmente, deve ser. A ela encomendamos as famílias desta paróquia, para que a frase de São João Paulo II se faça realidade: “Família, torna-te aquilo que és”.

 Reconheçamos a nossa pequenez para que entremos no caminho da verdade, vejamos as maravilhas de Deus em nós para exaltá-lo, tenhamos por certo que precisamos da ajuda divina para progredir.

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