12 janeiro 2024

Solenidade da Epifania do Senhor (Ano B) - Viemos adorá-lo!

 A epifania é a manifestação de Cristo aos povos pagãos representados nos magos do Oriente que vieram visitá-lo e adorá-lo em Belém. Todos nós sabemos que Deus “deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2,4). Todos são chamados à salvação, à santidade, à felicidade eterna.

O itinerário seguido pelos Magos reflete a caminhada que os pagãos percorreram para encontrar Jesus. Atentos aos sinais da estrela, percebem que Jesus é a luz que traz a salvação, decididamente começam o caminho para O encontrar.  Chama a nossa atenção neste evangelho a disposição dos Magos: eles viram a estrela, deixaram tudo, arriscaram tudo e partiram à procura de Jesus.  

E os Magos partiram

Não podemos deixar de prestar atenção particular ao símbolo da estrela, tão importante no evangelho (cf. Mt 2,1-12).  Esses Magos eram provavelmente astrônomos, tinham observado o surgir de um novo astro, e tinham interpretado este fenômeno celeste como anúncio do nascimento de um rei, precisamente, segundo as Sagradas Escrituras, do rei dos Judeus (cf. Nm 24,17). Esta luz de Cristo se manifestou na inteligência e no coração dos Magos. “Eles partiram” (Mt 2, 9), corajosamente por estradas desconhecidas e empreendendo uma longa e difícil viagem.

Neste caminho são guiados por uma luz. A primeira leitura já anuncia a chegada da luz salvadora de Deus, que transfigurará Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo. O apóstolo João escreve na sua Primeira Carta: “Deus é luz e nele não há trevas” (1Jo 1,5); e mais adiante acrescenta: “Deus é amor”. A luz, que surgiu no Natal, que hoje se manifesta aos povos, é o amor de Deus, revelado na Pessoa do Verbo encarnado. Portanto, os Magos do Oriente são atraídos por esta luz. A adoração de Jesus por parte dos Magos é reconhecida como cumprimento das Escrituras proféticas, como lemos no Livro do Profeta Isaías: “À tua luz caminharão os povos e os reis andarão ao brilho do teu esplendor… trazendo ouro e incenso, e anunciando os louvores ao Senhor” (Is 60,3.6).

No Evangelho lemos que “a estrela, caminhava à frente deles, até que, chegando ao lugar onde estava o Menino, parou”. Chegando a Belém, os Magos “ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e prostrando-se o adoraram” (Mt 2,11). A criança que eles descobrem não é uma criança como as outras: 

é rei, então ofereceram ouro; é Deus, então queimam incenso; passará pela morte antes de ressuscitar, então apresentam a mirra. 

Os dons que os Magos oferecem ao Messias simboliza a verdadeira adoração. Mediante o ouro eles realçam a realeza divina; com o incenso confessam-no como sacerdote da nova Aliança; oferecendo a mirra reconhecem que Jesus derramará o próprio sangue para reconciliar a humanidade com o Pai.

Há muitas pessoas bem intencionadas que, ainda que não conheçam Jesus Cristo, no fundo gostariam de conhecê-lo. Nós, os cristãos, devemos ser os instrumentos eficazes nas mãos de Deus para torná-lo conhecido e para fazê-lo amado entre os homens e as mulheres deste mundo. Hoje em dia, como outrora, muitos fazem a seguinte pergunta: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2). O que responder?

Onde está Deus? O cristão tem que saber a resposta a essa pergunta para apresentá-la aos seus semelhantes. Mas um cristão que não procura estar perto de Deus através da oração, dos sacramentos e da caridade, não poderá dar a resposta certa. Muitos seres humanos continuam tateando na escuridão com uma pequena lanterna pendurada na mão e com uma luz fraca, a da consciência; esta é a luz que não os deixa apagarem-se completamente em meio a tantos ventos fortes das propagandas enganosas. Essas pessoas perguntam a si mesmas e aos que passam ao seu lado: onde está Deus?

Infelizmente e de modo frequente percebe-se o silêncio dos cristãos omissos que não são capazes de intuir essas necessidades mais profundas das almas imortais que se encontram em composição com os corpos destinados à decomposição, mas também à ressurreição. Será que esses cristãos continuam vendo a estrela, que é Cristo? Será que eles não se “mundanizaram”? 

Um exemplo: frequentemente fala-se muito de justiça social, e isso é muito importante, mas deve-se falar em primeiro lugar da justificação, da graça, de Deus, do Reino eterno. Não podemos perder a nossa perspectiva autenticamente cristã que, de forma lógica, repercute neste mundo fazendo-o mais justo e solidário. Assim como quem fica exposto ao sol se aquece, de maneira semelhante quem se expõe diante de Deus também se esquenta e acende o mundo ao seu entorno.

Os pagãos desejavam adorar o Senhor. Afirmam decididamente: “viemos adorá-lo!” Até quando permaneceremos na nossa letargia sem dar-nos conta desse desejo mais profundo de todo coração humano: encontrar-se com o seu Criador e prestar-lhe homenagem?

Os Magos que vieram do Oriente são apenas os primeiros de uma longa procissão de homens e mulheres que na sua vida procuraram constantemente com o olhar a estrela de Deus, que procuraram aquele Deus que está perto de nós, seres humanos, e nos indica o caminho. É a grande multidão de santos, mediante os quais o Senhor, ao longo da história, abriu diante de nós o Evangelho e folheou as suas páginas; ainda hoje Ele continua a fazer isto.

A vida dos santos revela a riqueza do Evangelho. Eles são o rastro luminoso de Deus que Ele mesmo traçou e continua a traçar ao longo da história.  O segredo da santidade é a amizade com Cristo e a adesão fiel à sua vontade.  Santo Ambrósio dizia: “Cristo é tudo para nós” (S. AMBRÓSIO, De virginitate 16, 99). E São Bento exorta aos seus monges: “Nada antepor ao amor de Cristo” (RB 4,21).  São Bento indica com isto que devemos dar sempre prioridade a Cristo, que não podemos colocar nada, nem ninguém em seu lugar. A palavra “antepor” significa colocar algo entre mim e Cristo, construir um muro, uma separação. O amor de Cristo deveria ser nossa meta e nosso caminho, nossa certeza e nossa busca, nosso conforto.  Este “nada antepor”, significa que devemos priorizar sempre a companhia de Cristo. Quando nada colocamos no seu lugar, aí sim, nada antepomos ao seu amor.

Adorar! Nós devemos ser os primeiros a prostrarmo-nos diante do Deus Criador, Redentor e Santificador dos seres humanos. Não podemos perder a dimensão de adoração no cristianismo. Para uma pessoa que entendeu isso, dá pena ver como em alguns ambientes se trata a eucaristia, o grande dom atual de Deus aos homens! Dá pena observar algumas celebrações eucarísticas: sem zelo e sem a observação das prescrições da Igreja para a correta celebração da santa missa, por parte dos ministros de Cristo; entre conversinhas e atendimentos de celulares, por parte de muitos fiéis que participam do santo sacrifício da missa. Desta maneira, não poderíamos apontar a adoração como momento de encontro com Deus! Eles, os que não conhecem a Deus explicitamente, desejariam conhecê-lo e adorá-lo. Mas, nós que o conhecemos… Será que o conhecemos mesmo?


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